1) Introdução
Conhecimento pode ser defibnido como uma combinação de dados e informações carregados de expertise, habilidades e experiências para a valorização dos ativos e apoio ao processo decisório.
O conhecimento pode ser:
- explícito ou tácito
- individual ou coletivo.
A figura abaixo apresenta outra definição para Conhecimento como sendo um conjunto de Informaçãoes/Fatos/Juízos e um conjunto de Regras para a manipulação desses.
2) Aspectos Fundamentais
Conhecer, em sentido lato, é recolher e organizar informações sobre o meio envolvente de modo a permitir a constante adaptação do organismo ao meio, possibilitando assim a sua sobrevivência. Cada espécie de acordo com a sua herança biológica, tem neste sentido o seu tipo de conhecimento. Nos animais prepondera a informação inata (biológica). Nos seres humanos predomina a informação adquirida em sociedade.
Conhecer, em sentido restrito, apenas aplicável aos seres humanos, pode ser entendido como a construção de representações mentais que o sujeito organiza ao longo da vida na sua relação com os objectos.
Nesta perspectiva restrita, alguns conceitos foram sendo consagrados para descrever esta atividade:
- Sujeito (aquele que conhece);
- Objeto (o que é conhecido);
- Sensação (apreensão imediata do objecto).As sensações são processos fisiológicos de ligação do organismo ao meio, através dos orgãos sensoriais. Estes processos consistem na transmissão de um influxo nervoso (corrente eléctrica que percorre os nossos nervos) desde os orgãos sensoriais até aos centros de descodificação. A sensação realiza-se pela acção de um estímulo específico sobre o receptor que é apropriado para o receber. Os ouvidos recebem os estímulos sonoros, os olhos os luminosos, etc.
- Percepção (configuração ou construção individual dos dados sensoriais, em função dos mecanismos receptores, experiências anteriores, interesses, etc).A palavra percepção deriva do latim "perceptio"que significa acação de recolher, e por extensão "conhecimento" como apreensão.Também provém de "percipere" que significa apoderar-se de algo, perceber. Neste último sentido a percepção distingue-se da sensação, pois é a própria consciência da sensação (ou conhecimento). O que caracteriza a percepção é a apreensão da realidade, não como impressões sensorias isoladas, mas um conjunto organizado, ou uma totalidade portadora de sentido.
- Razão (elaboração de representações mentais abstractas (conceitos, discursos), relações lógicas e teorias interpretativas sobre a realidade.
As teorias explicativas sobre o conhecimento foram sempre um tema central na história da filosofia, e mais recentemente, também na ciência. As perspectivas da ciência não são, como é obvio, coincidentes com as da filosofia.
3) Teorias Científicas sobre o Conhecimento
As teorias explicativas sobre o conhecimento foram sempre um tema central na história da filosofia, e mais recentemente, também na ciência. As perspectivas da ciência não são, como é obvio, coincidentes com as da filosofia.
Entre as teorias científicas do conhecimento, podemos destacar as filogenéticas, as ontogenéticas, a sociologia do conhecimento e a psicologia da percepção.
- Filogénese: A filogénese estuda a história da evolução humana, nomeadamente a constituição dos seres humanos como sujeitos cognitivos. A paleontologia humana, baseada em inúmeras investigações, afirma que os homens nem sempre tiveram a mesma constituição e capacidades. A explicação mais consensual é que a evolução da nossa constituição morfológica e funcional, foi feita em simultâneo com o desenvolvimento das nossas capacidades cognitivas (memória, linguagem e pensamento) e esta de forma articulada com o desenvolvimento das nossas realizações e capacidades técnicas. Todos estes factores de forma inter-relacionada contribuiram para gerarem a espécie que hoje somos.
- Ontogénese: O conhecimento é encarado como um processo de modificações e adaptações ao meio que desde o nascimento ocorre em todos os seres vivos. Segundo diversos autores, a ontogénese repete a filogenese, isto é, o desenvolvimento da humanidade é como que repetido no desenvolvimento de cada ser.
Jean Piaget (1896-1980), o criador desta abordagem científica do conhecimento (a Psicologia Genética), começou por estudar o modo como, em cada indivíduo se desenvolve a faculdade de raciocinar (abordagem genética) considerando, deste modo, que esta faculdade não está pré-constituída aquando do nascimento de uma criança. Chegou à conclusão de que na origem do conhecimento estaria um processo dinâmico em que há uma permanente interacção entre o sujeito e o objecto.
O estudo deste processo de constitutivo das nossas capacidades cogitivas, conduziu Piaget a descobrir quatro grandes períodos ou estágios que são caracterizados em função das capacidades, de que um indivíduo dispõe para a apreensão e organização da realidade.
1. Estágio da inteligência sensório-motora ( do nascimento aos 2 anos);
2. Estágio da inteligência pré-operatória ( dos 2 aos 7 anos);
3. Estágio das operações concretas dos 7 anos 12 anos);
4. Estágio das operações formais ou abstractas.
Cada estágio representa uma forma de equilíbrio mais estável. Nesta perspectiva não existem estruturas inatas. Inata é apenas a necessidade de adaptação ao meio. Esta perspectiva do conhecimento é hoje denominada por construtivismo.
Sociologia do Conhecimento: Estuda a construção social da realidade pelos sujeitos, nomeadamente o senso comum.
4) Teorias Filosóficas sobre o Conhecimento
As teorias filosóficas do conhecimento, apesar da sua enorme diversidade, polarizam-se em grandes problemas:
- Qual a natureza do conhecimento ?
- Qual o seu valor ou possibilidade?
- Qual a sua origem?
4.1) Natureza do conhecimento
O que é que conhecemos? Os próprios objectos, ou as representações, em nós, dos mesmos?
Algumas respostas filosoficas:
- Realismo: Conhecer é apreender a realidade existente na experiência interna (actos da consciência) ou na experiência externa (objectos do mundo sensível).Os objectos existem independentemente dos sujeitos.
- Idealismo: Nega a existência do real. A realidade é reduzida a ideias: o mundo sensível é um mero produto do pensamento. Os objectos só existem enquanto representações, não têm uma existência independente.
4.2) Possibilidade do conhecimento
Pode o sujeito apreender o objecto? Atingir a verdade, a essência das coisas, ou está condenado às suas múltiplas aparências?
Algumas respostas filosóficas :
- O dogmatismo (dogmatikós, em grego significa que se funda em príncípios ou é relativo a uma doutrina) defende a apreensão absoluta da realidade pelo sujeito.Esta posição assenta numa total confiança na razão humana.
- O cepticismo (skeptikós, em grego signifca "que observa", que considera") defende a impossibilidade do sujeito apreender a realidade.Esta posição desconfia na razão humana. O cepticismo na sua foram mais radical, foi defendido pela primeira vez por Pirrón (c.270 a.C). Este filósofo afirmava que de nada podemos afirmar ser verdadeiro ou falso, belo ou feio, bom ou mau.Apenas nos resta suspender todos os juízos. Na Idade Moderna Montaigne e Hume manifestaram igualmente posições cépticas.
- O criticismo defende a possibilidade de se aceder à verdade, mas não aceita sem crítica as afirmações da razão.
- O pragmatismo ao subordinar o conhecimento a uma finalidade prática, afirma que a verdade é tudo aquilo que é útil e eficaz para a vida humana. Desta forma aproxima-se do cepticismo, na medida que relativiza o conhecimento. O pragmatismo surgiu nos EUA com Willian James Charles Pierce e John Dewey.
4;3) Origem do Conhecimento.
Qual a origem do conhecimento: a razão ou a experiência?
Algumas respostas filosóficas:
- Racionalismo: a razão é a fonte principal do conhecimento.O conhecimento sensível é considerado enganador. Por isso, as representações da razão são as mais certas, e as únicas que podem conduzir ao conhecimento logicamente necessário e universalmente válido.
Os racionalistas partem do princípio que o sujeito cognoscente é activo e, ao criar uma representação de qualquer objecto real, está a submete-lo às suas estruturas ideias.
Entre os filosófos que assumiram uma perspectiva racionalista do conhecimento, destacam-se Platão, René Descartes (1596-1650) e Leibniz. Todos eles partem do princípio que temos que são ideias inatas e que é a nossa razão que constrói a realidade tal como a percepcionamos.
Descartes é considerado o fundador do racionalismo moderno. Após ter suspendido a validade de todos o conhecimentos, porque susceptíveis de serem postos em causa, descobre que a única coisa que resiste à própria duvida é a razão. Esta seria a primeira verdade absoluta da filosofia. Descobre ainda que possuímos ideias que se impõem à razão como verdadeiras mas que não derivam da experiência (as ideias inatas). Só com base nestas ideias claras e distintas, segundo Descartes, se poderia construir por dedução um conhecimento universal e necessário.
- Empirismo: a experiência é a fonte de todo o conhecimento.Os empiristas negam a existência de ideias inatas, como defendiam Platão e Descartes. A mente está vazia antes de receber qualquer tipo de informação proveniente dos sentidos. Todo o conhecimento sobre as coisas, mesmo aquele em que se elabora leis universais, provém da experiência, por isso mesmo, só é válido dentro dos limites do observável.
Os empiristas reservam para a razão a função de uma mera organização de dados da experiência sensível, sendo as ideias ou conceitos da razão simples cópias ou combinações de dados provenientes desta experiência.
Entre os filosófos que assumiram uma perspectiva empirista destacam-se John Locke (1632 -1704) e David. Hume (1711-1776).
Locke afirma que o conhecimento começa do particular para o geral, da impressões sensoriais para a razão.O espírito humano é uma espécie de "tábua rasa" , onde se irão gravar as impressões provenientes do mundo exterior. Não há ideias nem princípios inatos. Nenhum ser humano por mais genial que seja é capaz de de construir ou inventar ideias, e nem sequer é capaz de destruir as que existem. As ideias, quer sejam provenientes das sensações, quer provenham da reflexão, têm sempre na experiência a sua origem. As ideias complexas não são mais do que combinações realizadas pelo entendimento de ideias simples formadas a partir da recepção dos dados empíricos. A experiência é não apenas a origem de todas as ideias, mas também o seu limite.
Hume, rejeita, como Locke o inatismo carteseano, mas introduz um dado novo nas teses empiristas quando afirma que a identidade entre a ordem das coisas e a ordem das ideias resulta de hábitos mentais ou na crença que existe uma ligação necessária entre os fenómenos. Esta critica ao conceito da causalidade irá ter profundas repercussões em filósofos posteriores, como I.Kant (1724-1804).
O debate histórico entre racionalistas e empiristas, em final do século XVIII, conduziu ao criticismo que procura superar as limitações de ambas as correntes filosóficas.
- Criticismo: Todo o conhecimento inicia-se com a experiência, mas este é organizado pelas estruturas a priori do sujeito. Segundo Kant (1724-, o criador do criticimo, o conhecimento é a síntese do dado na nossa sensibilidade (fenómeno) e daquilo que o nosso entendimento produz por si (conceitos). O conhecimento nunca é pois, o conhecimento das coisas "em si", mas das coisas "em nós".
Alguns filósofos contemporâneos defendem que o conhecimento resulta de uma interacção entre o sujeito e a experiência. Entre eles, destaca-se Jean Piaget.
Piaget, como vimos, desenvolveu uma concepção construtivista do conhecimento. O conhecimento é indissociável da acção do sujeito. Não é pois uma simples registo feito pelo sujeito dos dados do mundo exterior. O sujeito apreende e interpreta o mundo através das suas estruturas cognitivas. Estas estruturas não são todavia inatas, mas são formadas pelo sujeito na sua acção. O conhecimento é assim um processo de construção de estruturas que permitem ao sujeito apreender e interpretar a realidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário