Marta Ligia Pomim Valentim
INTELIGÊNCIA COMPETITIVA ORGANIZACIONAL: ferramenta ou processo
[Dezembro/2004]
A inteligência competitiva organizacional (ICO) vem sendo discutida ao longo deste ano, sob várias facetas, nesta coluna. Tenho afirmado que entendo a inteligência competitiva como um processo organizacional e não como uma ferramenta. Não acredito em inteligência competitiva organizacional apenas como uma ferramenta, porque se aplicarmos a inteligência competitiva entendendo-a desta forma, primeiramente não exploraremos os conceitos mais amplos da ICO, assim como estaremos entendendo inteligência competitiva organizacional como algo pontual que tem começo, meio e fim.
O processo de inteligência competitiva organizacional é entendido como um processo, justamente porque não tem começo, meio e fim. Este processo é trabalhado no ambiente corporativo de forma continuada. As pessoas são essenciais ao processo e, por isso mesmo, exige ele um modelo de gestão que viabilize sua continuidade, do contrário, o trabalho desenvolvido anteriormente se perderá ao longo do tempo.
Processo significa "[...] Sucessão de estados ou de mudanças [...] Seqüência de estados de um sistema que se transforma; evolução [...]"(1).
Ferramenta significa "[...] Conjunto de utensílios de uma arte ou ofício [...]"(1).
Estes conceitos, por si só, exprimem de forma clara se aplicados à inteligência competitiva, o meu entendimento. A inteligência competitiva organizacional como ferramenta, refere-se aos métodos e técnicas de prospecção e monitoramento informacional, bem como as tecnologias de informação utilizadas para tal atividade. A inteligência competitiva organizacional como processo, refere-se a um modelo de gestão que é sistêmico e se transforma a cada momento, bem como busca evoluir de um estado para outro supostamente melhor.
Discutir se a inteligência competitiva organizacional é uma ferramenta ou um processo, é necessário porque faz com que reflitamos sobre ela, assim como exige a percepção de todos os elementos que fazem parte dela.
Nesse sentido, para mim fazem parte do processo de inteligência organizacional: a) cultura e clima organizacional; comunicação informacional; prospecção e monitoramento informacional; gestão da informação; gestão do conhecimento; inovação; redes de relacionamento; tecnologias de informação; atores do processo; terminologia de especialidade, conforme figura abaixo:
O processo de inteligência competitiva organizacional trabalha a cultura e o clima organizacional, visando das pessoas da corporação uma atitude positiva em relação a geração/criação de conhecimento e ao compartilhamento/socialização da informação.
A comunicação informacional também deve ser objeto de atenção do processo de inteligência competitiva organizacional, pois é por meio dele que as informações e o conhecimento circulam no ambiente corporativo.
A prospecção e o monitoramento informacional, atividades base da ICO são desenvolvidas constantemente, de forma dinâmica e cíclica, exigindo uma avaliação contínua para dar consistência aos procedimentos de retroalimentação do processo.
A gestão da informação é fundamental para a ICO, pois trabalha os fluxos formais do ambiente interno e externo à organização, ou seja, trabalha no âmbito do conhecimento explícito.
A gestão do conhecimento, tão fundamental quanto a gestão da informação, trabalha os fluxos informais do ambiente interno e externo à organização, isto é, trabalha no âmbito do conhecimento tácito. É mais difícil de ser realizada, mas para isso utiliza-se de métodos e técnicas que auxiliam no atendimento do objetivo que é
criar um conjunto de estratégias para criar, adquirir, compartilhar e utilizar ativos de conhecimento, bem como estabelecer fluxos que garantam a informação necessária no tempo e formato adequados, a fim de auxiliar na geração de idéias, solução de problemas e tomada de decisão. (2)
O processo de inteligência competitiva organizacional alimenta a inovação no ambiente corporativo, assim como a inovação alimenta o processo de inteligência competitiva organizacional, portanto existe uma troca nos dois sentidos, ou seja, essa dinâmica é muito produtiva para a organização.
As redes de relacionamento são essenciais para o processo de inteligência competitiva, pois é a partir dos contatos tanto interno quanto externos à organização, que dados, informação e conhecimento circulam e são compartilhados.
Do mesmo modo as tecnologias de informação são fundamentais para a eficiência do processo de inteligência competitiva organizacional. Sem essas ferramentas tecnológicas pouco se pode fazer. Os elementos que compõem o processo de ICO necessitam dessas tecnologias para fornecerem resultados eficazes.
Os atores do processo de ICO, devem ser entendidos como pessoas de diferentes especialidades que trabalham em equipe, isto é, uma equipe multidisciplinar que atua de forma integrada, buscando a competitividade da organização.
Finalizando, a terminologia de especialidade, fundamental ao processo de ICO, permite que a linguagem usada nos sistemas que apóiam o processo de ICO, tenha consistência e unidade de sentido, resultando em maior eficácia de resultados.
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1 FERREIRA, A. B. de H. Dicionário Aurélio básico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
2 VALENTIM, M. L. P. et al. O processo de inteligência competitiva em organizações. DataGramaZero, Rio de Janeiro, v. 4, n. 3, p. 1-23, 2003.
Sobre Marta Ligia Pomim Valentim
Doutora em Ciência da Informação e Documentação (ECA/USP). Ex-Presidente da Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação (ABECIN), Professora do Depto de Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Autora de livros da área.
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